Ordo Fratrum Minorum Capuccinorum PT

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updated 4:51 PM UTC, Apr 18, 2024

Os Capuchinhos na Argélia

Os Capuchinhos na Argélia

Uma vida simples, fraterna, missionária

A fundação da fraternidade dos Capuchinhos de Tiaret se remete à decisão do Capítulo eletivo da Província da França-Valônia de 2006. Após a conferência de Madri de 2005, sobre a secularização na Europa, dois frades, Dominique Lebon e Hubert Lebouquin, fizeram um primeiro reconhecimento e apresentaram um dossiê, que foi votado pela grande maioria. Fr. René se juntou a eles na Argélia, em Tiaret, lugar onde o bispo de então imaginava que pudesse florescer. E foi o que aconteceu. Fr. Mariusz, da Província polonesa de Cracóvia, chegou em 2013, e Fr. Pascal, em 2017, enquanto Fr. Dominique regressou à França após 10 anos de presença.

A simplicidade, uma marca franciscana

A nossa vida fraterna, em Tiaret, cidade dos altiplanos, nos limites de Orã, desenvolve-se na simplicidade franciscana. Ocupamo-nos dos afazeres domésticos, ajudados por uma funcionária a tempo parcial, que também se ocupa da limpeza do espaço da comunidade paroquial. Somos responsáveis pela paróquia Santa Madalena de Tiaret, da qual Fr. Mariusz é o pároco, que acolhe sobretudo estudantes subsaarianos (cerca de vinte) e alguns cristãos argelinos.

Temos um oratório para a vida de oração comunitária e pessoal, além de uma sala polivalente para as celebrações dominicais e festivas, que ocorrem sábado à tarde e nos dias festivos.

A nossa economia é garantida por uma espécie de renda de subsistência (como encoraja o Papa Francisco), depositado mensalmente pela Diocese a cada irmão ativo, no valor de 21.000 dinares argelinos (cerca de 100 euros). Acrescentam-se a aposentadoria mensal de Fr. René, a solidariedade da Província para os seguros sociais e outras doações. Os custos, além da vida diária, são para ajudar pessoas em dificuldade, para a Província ou para os instrumentos da missão.

A fraternidade como primeiro testemunho

Os irmãos são conscientes de que o seu primeiro testemunho é o seu modo de viver juntos. Observam esta maneira de viver na relação uns com os outros, com o auxílio dos instrumentos tradicionais da vida capuchinha: a celebração regular do capítulo local, a liturgia simples e imersa no silêncio da oração, a corresponsabilidade da gestão da casa. Não são sobrecargas de trabalho. Consideram a hospitalidade como elemento central de sua existência e um testemunho da Vida que acolhem no silêncio da oração e da partilha fraterna.

A missione pacífica e gratuita em meio aos muçulmanos

A nossa relação com o mundo deve levar em conta os limites impostos pelo país: por exemplo, é vetado trabalhar sem um visto de trabalho (um contrato por parte de uma empresa estrangeira autorizada). A religião de Estado é o islamismo; extremamente minoritária, a presença cristã em geral, e católica em particular, está sob constante vigilância. Isto nos remete à primeira regra de São Francisco. Buscamos, assim, permanecer “humildes e submetidos a todos”, sem, por isso, perder a nossa dignidade. Não escondemos que somos cristãos. Quando é necessário e for “agradar a Deus”, dizemos mais. Acontece de os argelinos e argelinas virem nos falar de Deus e de uma experiência de Cristo, frequentemente vivida através de um sonho ou um milagre. O acompanhamento daqueles que Cristo chama faz parte da missão da Igreja neste país. Estamos aqui também para eles.

Não há nada de especial a fazer se não estarmos presentes aí, desarmados e acolhedores, permanecer no tempo e aprender as línguas do país (o árabe clássico e o cabila, um dialeto berbere, mas também o árabe dialetal).

Um chamado urgente e uma necessidade vital

Qual é a situação da Igreja na Argélia? E como pode o carisma capuchinho responder aos desafios que se apresentam?

Na Argélia, uma Igreja frágil

O mundo em que vivemos tem uma longa tradição islâmica. As relações sociais respeitam a separação entre público e privado, em que as mulheres dominam o segundo, enquanto os homens ocupam majoritariamente o primeiro. Esta relação pode mudar nas administrações, na escola e no campo da saúde.

A presença da Igreja Católica é ligada à história colonial francesa. Esta origem ainda é percebida: os edifícios, os costumes, as referências são inegavelmente europeias. A presença das congregações africanas e, sobretudo, a presença viva e dinâmica de estudantes subsaarianos, de todas as confissões cristãs, vem hoje renovar esta face. Imigrantes cristãos que trabalham nas empresas estrangeiras ou nas embaixadas enriquecem esta bela diversidade.

Os desafios do novo milênio

A missão na Argélia é inseparável do contexto atual do mundo em que vivemos. Ela se confronta, à sua maneira, com os desafios contemporâneos mais difíceis.

A migração, início de um fenômeno ainda por vir

O primeiro desafio que perpassa a vida da nossa Igreja local é o da migração. A cidade de Tiaret não está no percurso dos migrantes subsaarianos rumo à Europa; Orã, ao contrário, encontra-se na “primeira linha” de todas as rotas ligadas a este fenômeno. As pessoas detidas nas prisões argelinas, por motivos que vão desde o tráfico de drogas à falsificação, da fraude à falsificação de dinheiro, são também nossos “paroquianos”. Quase 80 membros da Igreja argelina, entre os quais dois frades capuchinhos, visitam estes prisioneiros, em todo o território. Esta missão é uma das mais evidentes para a nossa Igreja, e das mais significativas para a administração argelina.

Os migrantes são também objeto de uma atenção particular dos vários projetos mantidos pela Caritas Argélia, alguns dos quais veem um frade envolvido: o “Jardim das Mulheres” é ponto de escuta e acolhida, no Centro diocesano “Pierre Claverie”, ambos em Orã.

Mas, sobretudo, percebemo-nos como uma Igreja de migrantes!

Religiões que se confrontam ou fiéis que se reconhecem?

O diálogo inter-religioso é, obviamente, uma das principais preocupações da nossa missão. Mudando perspectiva, desta margem do Mediterrâneo, despontamos de longe no chamado “choque de civilizações”, com as diversas correntes sobre a pluralidade em ato na Europa e no mundo. Para nós, trata-se de nos comprometermos em uma busca paciente, e menos espetacular, de um verdadeiro renascimento de uma civilização inclusiva. Os fiéis, como convida o Papa Francisco, devem receber juntos a paz e viver da bem-aventurança dos que promovem a paz.

Última modificação em Sexta, 29 Janeiro 2021 12:41