Ordo Fratrum Minorum Capuccinorum PT

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updated 9:58 AM UTC, Apr 24, 2024

Rumo a Fátima : Encontro com os Ministros da Europa

CENOC e CIC

A vida de não poucas províncias europeias - refiro-me particularmente àquelas da ENOC e CIC – foi marcada nas últimas década do fadigoso processo de redimensionamento das nossas presenças. Fechamos e deixamos lugares com mais de 400 anos de presença e o processo não dá sinais de diminuição. A endêmica falta de novas vocações- isto já dura há mais tempo- comporto num forte envelhecimento das nossas fileiras. Tornou-se mito difícil exercer atarefa de guardião e faltaram as forças ativas na pastoral e noutros campos. O empenho profuso em garantir aos nossos confrades anciãos e doentes lugares onde possam transcorrer serenos os anos da velhice e Dara estes o cuidado necessário, significou um esforço notável e sabemos que continuará a ser assim ainda por longo tempo. A atenção dada aos frades anciãos e necessitados de cuidados representa certamente um aspecto bonito e luminoso do nosso testemunho. Além disso, estamos praticamente impossibilitados de enviar novo frades à missão, ao contrário, começamos a acolher irmãos provenientes daqueles lugares da Ordem onde o número de vocações está em contínuo crescimento.

Do ponto de vista numérico a CENOC no ano de 2000 contava com 1132 frades, enquanto hoje são ainda 855, com ma diminuição de 277. Cinco províncias contam com uma idade média acima dos 70 anos, até aproximando-se aos oitenta com 79,27% na Holanda. Enquanto a CIC passou dos 539 frades em 2000 aos 359 atuais, com uma diminuição de 180. A Província da Espanha conta com uma idade superior aos 70 anos (73,60), enquanto aquela da Catalunha está mito próxima disso (69,35).

CIMPCAP

A Itália merece ser citada à parte, porque existem circunstâncias em que continuam a ter um discreto número de vocações e apontam para o futuro com confiança. Outras, em vez, experimentam a dificuldade devida ao envelhecimento e estão a lutar com o não fácil processo de redimensionamento. Pra algumas se pode afirmar que são em tudo comparáveis ao que estão vivendo os frades das duas conferências acima mencionadas. Na Itália são em andamento processos de colaboração entre vários grupos de províncias seja no plano da formação inicial como permanente. Estes são mito promissores porque permitem aos jovens que abraçam a nossa vida de fazer o caminho formativo em companhia de outros jovens e de ter um grupo de formadores bem preparados. Também no campo da formação permanente os frades dispõem de uma gama muito vasta de propostas para nutrir e enriquecer a sua vida de consagrados. Estou certo de que destas colaborações nascerão, com o tempo, novas formas de agregação entre as províncias da península. Do ponto de vista numérico, sem contar os membros das custódias províncias na África, a CIMCAP, no ano 2000 contava com 2027 frades com uma diminuição de 580. A maior parte das províncias italianas tem uma idade média que supera os 60 anos, 4 delas estão numa faixa etária entre 50 e 60 anos.

CECOC

O quadro que procurei desenhar até aqui não nos afeta do mesmo modo. Os países da Europa centro-oriental gozam de uma situação que continua a ser favorável e rica de promessas. As duas províncias polonesas, em particular, corresponderam às necessidades de algumas províncias europeias e continuam a sustentar o trabalho missionário no Gabão, no Chade e na R.C.A. O número dos frades, do início do século até hoje permaneceu mias ou menos constante. Não se assiste mais, todavia, a um crescimento numérico forte. Sereis vós, irmãos da CECOC a dizer como vão as coisas no seio da vossa conferência, a falar-nos das alegrias e dificuldades que, providencialmente acompanham cada caminho.
Os frades da CECOC em 2000 eram 783, enquanto hoje são 759, com uma diminuição de 24. A província com a idade média mais alta é a da Eslovênia com 56,7, enquanto a mais jovem é a Romênia com 34,89.

Destinados a desaparecer?

Para um bom número de províncias, se a tendência deveria permanecer aquela que conhecemos há anos e não me parece que existam sinais de uma mudança de horizonte, a perspectiva a médio e longo prazo é o desaparecimento. Não creio que seja este o momento de cruzar os braços e resignar-se a um lento mas irreversível processo de morte. Somos chamados a considerar tudo isto com salutar realismo mas não menos com olhos novos, com olhos de fé. O Senhor nos chamou a viver a nossa consagração neste estreito de tempo, no fim do segundo milênio e início do terceiro. O que significa que somos chamados a testemunhar o nosso carisma hoje, portanto fazer de todos partícipes do dom que recebemos. Não se trata, portanto, de querer inverter a tendência, porque isto seria dizer nostalgicamente que queremos retornar a ser numerosos e influentes como éramos um tempo. No arco dos últimos 50 anos as nossas sociedades e a própria vida das igrejas locais mudou radicalmente. Entramos na época pós-moderna do digital e estamos saindo definitivamente daquilo quem vem comumente chamado de "regime de cristandade". Já no longínquo 1969, o cardeal Ratzinger afirmava que a Igreja viveria uma crise profunda, que a levaria a ser de tal modo pequena que não seria mais capaz de habitar os edifícios que construiu nos dias de prosperidade. Além do que, com o diminuir dos seus fiéis teria perdido também grande parte dos seus privilégios sociais.
O fechamento de tantas igrejas e a procura de novas destinações para estas é um fato que preocupa muitos bispos europeus. O mesmo fenômeno constato no presente de modo dramático também no Quebec.

Uma religião sem Deus

O fenômeno da secularização certamente não fez desaparecer a religiosidade e a busca espiritual em grande parte da população, somente que esta orienta a sua busca para outros horizontes que não são necessariamente aqueles propostos pelas nossas igrejas. Está tomando pé a convicção de que a religião pode muito bem dispensar Deus, antes, que a religiosidade é mais profunda do que Deus. É o que vem teorizado pelo filósofo americano Ronald Dworkin no seu livro, Religion without God (2013) . Neste caso é o sentimento religioso a prevalecer sobre tudo e não existem parâmetros objetivos que liguem a uma tradição plurissecular que leve por sua vez a uma revelação. Jesus permanece um sujeito interessante e para alguns até genial, mas não a Palavra por excelência, a pedra angular de tudo o que foi transmitido. Neste caso a Boa Nova consiste em proclamar que o ateísmo é fonte de liberdade e te permite finalmente ver e gozar de toda a beleza da vida. Estamos bem além do slogan em voga há alguns anos: "Cristo sim, igreja não!". Hoje o slogan vai decididamente no rumo de afirmar: "Religião sim, Deus não!".

Um dom para o povo de Deus

Uma vez mais o que importa é sobretudo de que modo entendemos viver este momento preciso. Continuamos a crer que a vida consagrada, portanto a nossa de capuchinhos, é um dom para o povo de Deus a caminho ( Papa Francisco)! Devemos gritar ao mundo que Deus nos ama, que a vida é bela e digna de ser vivida em plenitude do início ao fim. Não faltam certamente dificuldades, mas estas são parte integrante da vida de todos. Nos fazem cresce, desde que decidamos transformá-las em oportunidades. Além do que não podemos ser deprimidos, desencorajados, sem esperança, porque vivemos na certeza que nos vem de uma promessa: "Eis que estarei convosco todos os dias até o fim do mundo." (Mt 28,20). Somos chamados muito mais a contagiar os outros com a alegria, a ser otimistas porque anunciamos a vida, a explosão da vida, aquela do Cristo Ressuscitado: "Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e na Samaria e até nos confins da terra"(At 1,8). Somos chamados a viver isto enquanto estamos diminuindo em número e não havendo senão pouquíssimas vocações. Um observador atento da natureza sabe que as cores do pôr do sol não são mais feias que as da aurora. Pensemos com serenidade também ao desaparecimento dos capuchinhos de algumas partes do mundo, sabendo que a possibilidade deste fim não é uma blasfêmia. Amemos a nossa província com o nosso carisma e o vivamos de modo que posa ser conhecido e apreciado. Não nos preocupe a ideia de morrer como pessoa ou como província. Devemos trazer no coração sim a ideia de morrer bem, de pé, deixando uma estrada luminosa.

Antecipar a aurora

Sendo mais de dez mil frades capuchinhos no mundo, temos certamente a possibilidade de tentar novas saídas para continuar a garantir a presença do nosso também nestas terras da Europa onde a presença dos capuchinhos está ameaçada de morte. Irmão Roger Schutz, fundador de Taizè, gostava de dizer que a tarefa da vida religiosa é a de antecipar a aurora. Hoje ser profetas significa criar fraternidades internacionais e interculturais que pratiquem a globalização com a presença de brancos, negros e amarelos. Não será sempre fácil integrar culturas diferentes mas o que nos une, a fé e o carisma, é muito mais forte do que nos distingue.

Pessoas tocadas por Deus

Estas fraternidades são chamadas a viver em sociedades que estão conhecendo um verdadeiro e próprio eclipse de Deus. . Temos sempre sobre os lábios o nome de Deus, falamos d'Ele a propósito e despropositadamente e temos dificuldade em perceber que entorno a nós se está criando um vazio. Muitos são os que, hoje em dia, não conseguem mais saber a quem se refere este nome(Deus) e portanto para eles permanece privado de sentido. Parece-me válido retomar uma citação de Papa Bento XVI que em 2005 afirmou: "são homens e mulheres que através de uma fé iluminada e vivida, rendem Deus crível neste mundo. Mulheres e homens que mantenham o olhar dirigido para Deus, aprendendo dali a verdadeira humanidade, somente por estas pessoas, tocadas por Deus, Deus pode retornar aos homens" . Indiretamente Papa Ratzinger afirma que Deus precisa de tais homens e mulheres para retornar para junto das pessoas. E isto me faz recordar daquela intuição finíssima e igualmente perspicaz de Etty Hillesum que prometia a Deus que lhe reservaria um lugarzinho em seu coração. Diante do avanço do horror nazista em 1942, escrevia: "Te ajudarei, Deus a não fragmentar-te em mim, mas não posso garantir nada de agora em diante. Uma coisa, porém, se faz sempre mais clara pra mim: que tu não podes ajudar-nos, mas somos nós que devemos ajudar-te e fazendo isso, no fim, ajudamos a nós mesmos. E esta é a única coisa que neste período podemos salvar, e é a única coisa, esta, que realmente importe: um pedaço de ti em nós mesmos, Deus."

"Tu és santo, tu que habitas nos louvores de Israel"

A pergunta hoje torna-se portanto aquela se queremos esforçar-nos, também nós, de modo renovado para manter vivo este lugar para Deus no nosso modo de ser, de viver, de rezar. Ultimamente , durante o Sínodo, marco-me muito o quarto versículo do salmo 22, na sua versão latina: "Tu autem sanctus es, qui habitas in laudibus Israel." Não me parece que a tradução italiana o outras respeitem plenamente o quanto parece ser a versão literal do texto hebraico. De fato, uma coisa é dizer: "Tu que habitas nos louvores de Israel" ou "Tu sentas no trono entre os louvores de Israel". "Tu habitas nos louvores de Israel" abre uma perspectiva de grande responsabilidade e beleza para todos nós. Num certo sentido, por mais que pareça paradoxal, isto significa que o nosso pronunciar o nome de Deus no louvor, não somente o alcança mas também o faz viver, vibrar, aparecer. Não existe unicamente o poder de Deus sobre nós, mas também um nosso poder em relação a Ele. Literalmente, então, é Deus quem depende de nós. Para o Papa Bento XVI o seu retorno em meio aos homens dependerá de pessoas que deixaram tocar por Ele. Nesta pista assume nova luz e urgência o convite que S. Francisco a todos os ouvintes do Cântico do Irmão Sol: "Laudate e benedicite mi Signore e rengraziate e serviateli grande humilitate." Nisto Francisco toma plenamente o primado do louvor, aquela que Paul Beauchamp chama a gramática elemnetar da oração e cja primeira regra consiste nisso: "O louvor é o início e o fim de toda oração. A segunda é que o louvor e a súplica são os dois elementos que, sozinhos, são suficientes para descrever a totalidade da oração."

A tensão para Deus

Rino Cozza afirma no seu livro sobre "Novos horizontes para a vida religiosa": "A dificuldade hodierna da vida religiosa é sobretudo aquela de responder á pergunta sobre Deus...O ponto de partida, mas também de chegada, é o de ser reconhecidos não pelo número de orações, mas pela experiência de oração". São Francisco na Regra convida seus frades a "desejar sobre todas as coisas possuir o Espírito do Senhor e a sua santa operação" . E as nossas Constituições n. 45,8 dizem: "Desejando sobre todas a s coisas o Espírito do Senhor e a sua santa operação, rezando sempre a Deus com o coração puro, demos aos homens o testemunho de uma oração autêntica, de modo que todos vejam e experimentem em nosso rosto e na vida das nossas fraternidades o reflexo da bondade e da benignidade de Deus presente no mundo." Trata-se de uma exortação muito bonita, mas permito-me juntar a esta outra afirmação de Cozza: "A vida religiosa perdeu a capacidade de dar sentido ao seu estar no mundo, que deveria ser dado principalmente por tornar acreditável que o homem é capaz de Deus" . Onde falta a tensão para Deus, tudo se nivela! Sendo também nós, filhos do nosso tempo mais do que nunca é possível que não nos demos conta das mudanças que estão acontecendo. Refiro-me em particular á passagem de um regime de cristandade, onde as referências a Deus eram frequentes e onipresentes, e justo por isso, corremos o risco de nos tornarmos obsoletos para um mundo que simplesmente o ignora. Tudo isto não é sem consequências e assim vivemos num tempo onde aumenta o número das pessoas que vivem sem referir-se a Deus ou que não o conhecem de fato. Pode ser que tudo isso nos tenha pego despreparados e por consequência terminamos deplorando este dado de coisas, sem perceber que os nossos contemporâneos precisam de bem outra coisa, o seja, de pessoas que lhes ajudem a desejar a Sua presença, a aproximarem-se d'Ele e fazer com que Ele se aproxime dos mesmos. Creio que nestes tempos sejam mais necessários aqueles que falem com Ele, cantem-nO, o esperem com paixão, do que daqueles que O pregam.

Testemunhas do primado de Deus

Francisco primeiro deixou-se evangelizar profundamente e isto levou-o a ter uma consciência acurada da grandeza e da bondade de Deus: "Tu és o bem, todo o bem, o Sumo bem!" O seu amor por toda criatura nasce da profunda convicção de que cada coisa, animada o inanimada, tem a sua origem em Deus. Tudo nos foi doado por Ele e deve ser acolhido com cuidado e suma gratidão. Do que temos maior necessidade hoje na Europa, são fraternidades que vivam e testemunhem o primado de Deus na nossa vida. Fraternidades que O façam habitar seus louvores: "teus são o louvor, a glória, a honra e toda bênção!"

O nosso modo de evangelizar

Neste sentido, creio que se trata de investir cada intenção nossa de renovação no processo de nova evangelização, onde a prioridade é a resposta positiva e não a condenação . Devemos fazê-lo juntos. São necessários frades que não tenham medo de provar algo de novo, que saibam deixar os caminhos de sempre e seguros de um tempo para colocar-se em caminhos não ainda traçados, par abrir novas estradas. Tudo bem com as paróquias e a tantas atividades pastorais de tipo tradicional, mas do temos maior necessidade hoje é outra coisa: fraternidades que testemunhem na simplicidade a beleza do estar diante de Deus para louvá-lo e servi-lo e que não tenham medo de ir aos pobres e os marginalizados das nossas sociedades abastadas. Se, ao invés, pensamos em concentrar-nos em primeiro lugar em atividades do tipo pastoral e tradicional, arriscamos de fechar-nos num gueto e de servir somente àqueles que restaram. Na parábola da ovelha perdida, Jesus não convida pra se permaneça à espera que retorne, mas convida a procurar, a tornar-se ativos. O mesmo discurso vale para a procura da moeda perdida: a mulher acende a lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente até que não a tenha encontrado (Lc 15).

A colaboração fraterna entre circunscrições

Antes ainda de ter ouvido os testemunhos de como estão vivendo a dimensão da internacionalidade as irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, os frades Franciscanos de Palestrina e os nossos Capuchinhos de Clermond Ferrand, é chegado o momento de entrar num modo mais circunstancial nesta proposta e de iniciar a precisar-lhe os contornos. De alguns anos para cá iniciamos aquela que um tempo chamamos: "a solidariedade de pessoal" e que o Capítulo geral de dois anos atrás preferiu chamar "colaboração fraterna entre as circunscrições" . Diversas circunscrições, especialmente junto à CENOC, estão experimentando esta realidade: penso particularmente na Áustria, Suíça, Alemanha, França, Bélgica e Inglaterra. Também em relação à CIMCAP registram-se inícios de colaboração neste sentido. Como vai a experiência? Discretamente bem, mas também está claro que se encontram algumas dificuldades devidas antes de tudo à diferença de mentalidade e de práxis pastoral. Diga-se ainda que as expectativas de quem chega na Europa para inserir-se numa nova realidade na maioria das vezes são diferentes daquelas de quem acolhe estes irmãos. Não é de subestimar também o conflito de gerações, enquanto quem acolhe é assinalado pela idade mais avançada enquanto quem chega a nós de outros continentes é muito jovem. Dos frades vindos de fora exige-se que aprendam e bem uma nova língua, que adquiram familiaridade com mentalidades novas e também com diferentes modos de viver a nossa vida capuchinha e de praticar a pastoral. Geralmente somos muito mais exigentes em pedir espírito de adaptação àqueles que vêm de fora, que daqueles que acolhem. Já se falou muitas vezes que os frades vindos à Europa no âmbito da colaboração fraterna não deveriam ser considerados como simples tapa-buracos. Isto é claro que é verdade, mas nem sempre vem interpretado de modo correto. Por trás desta afirmação esconde-se a expectativa de que estes frades sejam capazes de propor e promover projetos novos, projetos que nem mesmo nós fomos capazes de formular e menos ainda realizar. Parece-me natural que num primeiro momento, uma vez aprendida a língua, estes irmãos sejam envolvidos num tipo de trabalho pastoral mais tradicional como a celebração dos sacramentos, pastoral dos enfermos e outros grupos. E parece-me também plausível que, conforme a necessidade, estes dediquem-se aos fiéis provenientes os seus países de origem, que não encontram uma atenção adequada por parte das igrejas locais. Conforme seja, os nossos frades vindos de fora se dão conta muito rápido que a prática pastoral aplicada nos seus países de origem não encontram a mesma correspondência no âmbito no qual foram chamados a operar hoje. Resta, certamente, muito do que fazer para chegar a uma melhor integração recíproca mas afirmo que estas primeiras tentativas são cheias de esperança.

O pedido de poder assumir o cuidado de paróquias

Diante das dificuldades experimentadas até agora no campo da colaboração fraterna entre circunscrições e na intenção de encontrar novas possibilidades para tornar as próprias circunscrições financeiramente independentes, de diversas partes, especialmente da Índia e Madagascar, fizeram-se insistes os pedidos para poder assumir o cuidado de paróquias na Europa. Até agora a resposta da parte minha e do Conselho geral foi negativa, mas nos damos conta que somos chamados a encontrar soluções que permitam aos nossos irmãos indianos ou malgaxes fazerem esta experiência e que a mesma precisa de um quadro jurídico acordado por todas as partes interessadas, de modo particular também das circunscrições do território no qual viriam a estabelecer-se estes confrades. Concretamente trata-se de ver se queremos inseri-los no âmbito da colaboração fraterna ou de considerar-lhes como casas de presença dependentes do Ministro provincial que os envia.
Considero referir aqui um fato concreto. Um frade da província de S. José, na Índia, declarou a disponibilidade de sua província a assumir responsabilidades paroquiais aos responsáveis da diocese de Friburgo em Brisgóvia, no sul da Alemanha. Com isto, em nome do arcebispo foi enviada uma carta ao ministro provincial afirmando que a diocese estava interessada em primeiro lugar que um grupo de frades recebesse um lugar que já haviam deixado os capuchinhos ou outros religiosos para garantir assim a continuidade de presenças religiosas consideradas particularmente importantes para a vida da diocese. Parece-me interessante fazer notar como neste caso o bispo diocesano faça uma proposta voltada a manter a presença de comunidades religiosas que garantam um tipo de presença e acene, de fato, ao assumir a responsabilidade por uma ou mais paróquias.

Fraternidades interculturais

A meu ver, a colaboração fraterna entre as circunscrições deve continuar e consolidar-se no tempo, todavia estou também convencido de que somos chamados ainda a tentar encontrar outros caminhos. Não basta envolver nossos confrades indianos para dar oxigênio e esperança à presença capuchinha na Europa, creio, ao invés, que deve ser a própria Europa quem deve mobilizar-se primeiro. É verdade que, também entre nós, de paia a país , de província para província existem muitas diferenças, mas também creio que neste momento somos chamados a apostar decimamente num projeto comum de evangelização que veja envolvido frades de todas a s circunscrições da Europa além de frades provenientes de onde as vocações ainda são abundantes. Hoje é mais fácil motivar um jovem frade italiano (mas poderia falar também de outros países) a dedicar-se a um projeto de nova evangelização na Europa do que propor-lhe partir como missionário na China ou qualquer país africano. Esta disponibilidade deve ser plenamente valorizada para fazer alguma coisa de novo pela Europa. Ouviremos amanhã o que está acontecendo a Clermont Ferrand e ouviremos que é possível viver juntos com toda simplicidade, irmãos franceses de várias idades com frades provenientes da Itália. Estas fraternidades deverão, como dizia acima, concentrar-se em viver uma vida simples, centrada no essencial e a ser, antes de tudo lugares onde se viva e testemunhe a tensão para Deus num modo simples e alegre. Precisamos de fraternidades que testemunhem que é possível viver juntos mesmo provindo de contextos culturais tão diferentes e creio que disto a nossa Europa tenha necessidade urgente. Isto digo tendo como pano d efundo o crescimento dos partidos xenófobos em muitos dos nossos países. Hoje somos capazes de um chip microscópico uma infinidade de informações mas não somos capazes de garantir paz e justiça para todos em toda parte. Isto deve mobilizar-nos a dar testemunho que em nome de Jesus Cristo e de S. Francisco de Assis isto é possível, antes de tudo entre nós e depois nos ambientes onde vivemos.

Premissas

Para realizar um projeto evangelizador de tal tipo, algumas condições fundamentais devem ser dadas:
1. A primeira premissa consiste no senso de responsabilidade fraterna de todos em relação a todos como frades capuchinhos:
2. São necessárias circunscrições que estejam dispostas a acolher este tipo de projeto com uma adesão convicta. Estas devem assinalar-nos os lugares onde estas fraternidades poderão instalar-se, possivelmente no coração das cidades;
3. Por parte de todos exige-se a disponibilidade para superar o provincialismo e adotar uma visão mais ampla, sendo conscientes que todos somos chamados a contribuir à realização deste projeto de evangelização como capuchinhos;
4. Além do que, a realização deste projeto, dependerá da capacidade de renúncia por parte de todos, renúncia que deverá traduzir-se praticamente no acelerar os processos de redimensionamento de acordo com as várias circunscrições;
5. Em algum lugar deveremos nos dispor a morrer como província e aceitar que nasça algo de novo, porque não se trata mais de salvar instituições, mas de começar do início, sem por isso entrar em competição com o que ainda existe;
6. Preparemo-nos para colocar á disposição os melhores frades, pessoas capazes de viver relações maduras e que não temam aferrar-se num projeto exigente;
7. Prevejamos também, se necessário, um estatuto especial para estas fraternidades, fazendo-lhes depender diretamente do Ministro geral e seu Conselho;
8. Criemos uma equipe que acompanhe estas fraternidades e as coloque em estreita relação entre elas;
9. Pensemos ainda, novos caminhos de formação para aqueles que pedirão para abraçar a nossa vida a partir do encontro com estas fraternidades.

Conclusão

Creio que seja absolutamente chegado o momento de ousar alguma coisa de novo e colocarmo-nos em caminho com muita confiança. Fico feliz em poder dizer que consagraremos o dia de amanhã ao conhecimento dos projetos que já vão nesta direção e teremos a oportunidade para adentrarmos mais na temática de como a secularização esteja marcando fortemente o continente europeu. Pode ser que nos sintamos como os três pastorzinhos de Fátima no momento em que a Virgem lhes confiou uma missão. Quem sabe, quanto medo e mesmo assim a cumpriram e nós somos chamados a olhar primeiramente à coragem deles.
O ícone que deve inspirar-nos é aquele da jovem mulher de Nazaré, que tendo sabido do anjo Gabriel que sua parente Isabel, na sua velhice, havia concebido um filho, levantou-se e caminhou com pressa para a região montanhosa numa cidade de Judá para permanecer com ela por cerca de três meses. No nosso caso, trata-se de partir com o mesmo entusiasmo e a permanência certamente se prolongará por mais de três meses!

Fatima, 02 dezembro 2014

Fra Mauro Jöhri,
Ministro geral OFMCap

Última modificação em Quinta, 08 Janeiro 2015 09:13